INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTE APRESENTANDO SEQÜELA DE LEUCOMALACIA PERIVENTRICULAR E SÍNDROME DE MOEBIUS - ESTUDO DE CASO * Acadêmica do 9º período de Fisioterapia ** Docente Supervisora de Estágio em Fisioterapia na área de Pediatria Faculdade União das Américas - Uniamérica, Foz do Iguaçu, Paraná
A Síndrome de Moebius é caracterizada por paralesia congênita e não progressiva dos
nervos Cranianos VI (responsável pelo movimento ocular) e o nervo VII (responsável pela parte sensitiva, gustação e mímica facial). A leucomalácia periventricuar é a principal forma de lesão cerebral nos recém-nascidos prematuros, nela ocorre uma necrose cerebral extensa por anóxia de parto. Estas patologias serão abordadas neste artigo, que tem o objetivo de observar a intervenção fisioterapêutica na criança com o diagnóstico de síndrome de moebius e com seqüela de leucomalacia periventricular. Visa também observar as melhoras que o paciente apresentou depois de realizados atendimentos fisioterapêuticos específicos para o paciente.
Palavras-Chave: Síndrome de Moebius,Leucomalácia periventricular, fisioterapia. INTRODUÇÃO
Segundo Kmar (l990), a Síndrome de Moebius foi descrita por Moebius, em 1892. E
caracterizada por paralesia congênita e não progressiva dos nervos Cranianos VI (responsável
pelo movimento ocular) e o nervo VII (responsável pela parte sensitiva, gustação e mímica
unilateralmente e bilateralmente como: IX (Glossofaríngeo sensação da língua e deglutição)
XII (hipoglosso movimentação da língua), quase sempre bilateral, o que produz uma
aparência facial pouco expressiva e estrabismo convergente. Essa paralesia pode ser total ou
parcial. São afetados os movimentos dos olhos, não os fechando totalmente e os movimentos
da face que expressam emoções, acarretando uma face inexpressível, com ausência total de
mímica facial. A maioria dos casos acompanha-se de deficiência mental sugerindo que o
envolvimento do sistema nervoso possa ser mais difuso do que o apontado pela presença
maciça das paralisias de nervos cranianos.
Segundo o Neurologista Alemão Paul Julius Moebius a origem da SM permanece
especulativa mas, certamente é influenciada por fatores genéticos e ambientes como:
1) Isquemia fetal transitória é a teoria mais aceita para explicar a síndrome. Embora a maioria
dos casos seja esporádica, alguns estudiosos postulam a natureza genética para a SM.
2) Herança genética tais como a translocacao entre o braço curto do cromossomo 1 e o braço
longo do cromossomo 13 era responsável por casos de SM.
3) Fatores ambientais como: Infecção, utilização de misoprostol (citotec), uso de álcool,
Segundo Pupo filho (1999), acredita-se que a popularização do uso do misoprostol
como abortivo, em nosso meio, possa ser responsável pelo aumento do numero de casos da
SM observado nos anos recentes. Uma pesquisa realizada em 1996 comprovou que 49% das
crianças portadoras da síndrome de Moebius estudadas nasceram após tentativa frustadas de
abortos com o uso de misoprostol. O misoprostol, medicamentos vendido com o nome de
citotec usado para tratamento de ulceras gástricas, é usado de forma clandestina para provocar
abortos. Quando o aborto não ocorre o desenvolvimento do embrião é prejudicado e ele pode
A incidência é de cada milhão de crianças que nascem em todo o mundo, uma e
portadora da síndrome de Moebius. Não há predominância de sexo e raça. Com cerca de 300
casos de síndrome de moebius, o Brasil é o segundo pais no mundo, atrás dos Estados Unidos,
com 800 casos e à frente da Grã – Bretanha, com 180 casos. A estimativa é a Moebius
Syndrome Foundation, uma organização não governamental sediada nos EUA, criada há 9
anos para difundir informações capazes de ajudar famílias e profissionais da área medica no
diagnostico correto e tratamento precoce da síndrome. A instituição tornou-se referência
internacional e gerou entidades congêneres em diferentes paises, entre as quais a Associação
As manifestações mais frequentes são: Face em mascara ou falta de expressão facial;
Inabilidade para sorrir; Estrabismo convergente; Ausência de movimentação lateral dos olhos
e do piscar; Fissura palpebral; Dificuldade para fechar os olhos; Fraqueza muscular;
Hipoplasia de mandíbula e de maxila; Baba; Palato alto e estreito; Língua pequena ou mal
formada; Alterações de dentes; Alterações na fala; Problemas auditivos; Malformações de
extremidades; Polidactilia (dedo extra); Sindactilia (dedos Unidos); Retardo mental; Pés torto
congênitos; Contratura flexora de joelhos e tornozelos.
O diagnóstico começa pelas manifestações clínicas, como a incapacidade de sugar e
pelo fechamento incompleto das pálpebras durante o sono, nota-se que a criança não sorri,
apresenta um aspecto de face em mascara, estrabismo convergente em vários graus,
incapacidade de movimentar lateralmente os olhos, paralisia e hipoplasia da língua são
tambem observados, dificuldade na ingestão e deglutição são geralmente importantes,
podendo ser agravados por mal formação do palato e problemas dentários, levando muitas
vezes ao atraso do desenvolvimento dessas crianças. Problemas auditivos e da fala ocorre com
freqüência. A inteligência é geralmente normal, mis são encontrados graus variados de retardo
O prognóstico desta doença não tem cura. Muitas crianças podem vir a óbitos ate um
ano pelo fato de problemas de ingestão de alimentos, podendo ocorrer asfixia. Podendo
também entrar em coma a qualquer momento devido ao seu problema de hidrocefalia se acaso
O que podemos fazer é minimizar s efeitos da doença através de tratamentos cirúrgicos
ou através de terapias que visam a melhora das deformidades e contraturas e as condições
O tratamento fisioterapeutico da paralisia facial inclui as manobras de massoterapia de
relaxamento na hemiface não comprometida, massoterapia de estimulação na hemiface
paralisada, crioterapia e cinesioterapia.
A cinesioterapia constitui-se de exercícios de mímica facial e reeducação da
musculatura facial através de “biofeedback”eletromiografico com eletrodos de superfície.
Quando ocorre a retomada do fluxo nervoso aos músculos, a reabilitação não pode ser global
ou forcada, para evitar o trabalho predominante dos músculos mais fortes. O trabalho, a
principio, deve ser realizado em forma de esboço para que, mais tarde, todos os elementos
musculares se reitegrem em uma mímica global e harmoniosa.
Durante os exercícios deve se procurar o equilíbrio entre os músculos agonistas e
antagonistas e para isto, pode ser utilizada a pressão digital, a qual favorece a dissociação dos
movimentos de boca / olhos, ou seja, da parte inferior e superior da face. Os movimentos de
contração sinérgica devem ser inibidos e, se aparecem movimentos anárquicos, os músculos
responsáveis devem ser mantidos em posição de estiramento para inibi-los. As sincinesias
ocorrem quando não são tomadas estas preocupações.
Tanto o uso do calor como da crioterapia são indicados como recursos terapêuticos na
paralisia facial. A crioterapia tem como o principal objetivo a estimulação de pontos motores
para a obtenção da contração muscular, na fase da paralisia em um período de
aproximadamente 15 min, por outro lado, o calor aplicado através de lâmpada infra vermelho
ou bolsas quentes proporciona o relaxamento muscular na fase de hipertonia.
O objetivo da massoterapia e a redução do edema através de técnicas de drenagem
linfática, pela sua ação sobre a circulação na fase flácida e o relaxamento muscular na fase
hipertônica com ênfase nos pontos dolorosos. A massagem deve abranger as duas hemifaces,
sendo que as manobras de deslizamento superficial e profundo são realizadas no sentido
centrifugo na hemiface paralisada e centrípeto na hemiface normal. A massagem endobucal
também e recomendada com a finalidade de produzir o estiramento da musculatura intrabucal
hipertônica. Deve-se salientar a importância da correta aplicação da massagem, pois caso
contrario, a mesma pode desencadear reações reflexas de defesa com piora das retrações
Segundo Paul (1853-1907), por apresentar múltiplas manifestações os portadores da
síndrome deverão ser tratados por uma equipe multiprofissional especializada em tais casos.
O tratamento devera priorizar as diferentes necessidades físicas, cognitivas, sociais e
Dependendo das necessidades os pacientes precisarão de correção cirúrgica ortopédica
para correção dos pés tortos congênito, oftalmologista para o estrabismo e se houver alteração
neurológicas necessitarão de cuidados medicamentosos por parte do neurologista.
A leucomalácia periventricuar é hoje considerada a principal forma de lesão cerebral
nos recém-nascidos prematuros, aumentando o risco de desenvolvimento de seqüela
neurológica, incluindo disfunção motora, atraso do desenvolvimento cognitivo, deficiência
visual e epilepsia. As desabilidades neurológicas freqüentemente resultam em paralisia
cerebral, especialmente a diplegia. (FONSECA,2004).
Ocorre uma Necrose cerebral extensa por anóxia de parto. As lesões são mais graves
nos lobos occipitais, onde a substância branca sofre extensa necrose, que resulta em
degeneração cística. Em conseqüência, os ventrículos laterais (cornos posteriores) dilatam
para ocupar o espaço deixado. A isto se chama hidrocefalia ex-vacuo.
A necrose atinge a substância branca lateral e superior ao ângulo do ventrículo,
localização clássica da chamada leucomalácia periventricular. Esta área é uma zona limítrofe
entre territórios arteriais, onde a irrigação é mais crítica. Trata-se do limite entre as artérias da
convexidade, que suprem o córtex cerebral, e as artérias profundas, que nutrem os núcleos da
base. No caso de uma anóxia perinatal grave (como por descolamento prematuro da placenta,
compressão do cordão umbelical, etc.) esta área é a mais afetada, resultando em necrose. O
termo leucomalácia significa amolecimento da substância branca. A atrofia do corpo caloso é
também devida à necrose (o corpo caloso é uma comissura, constituída somente por
APRESENTAÇÃO DO CASO CLÍNICO
Paciente V.E.M., sexo masculino, 2 anos de idade, data de nascimento em 23/02/05.
Apresenta diagnóstico médico de Síndrome de Moebius e Seqüela de Leucomalácia
periventricular, e diagnóstico fisioterapêutico de diplegia. A queixa principal é não conseguir
caminhar. Na H.M.A, foram colhidas informações coma mãe, que relatou que sua segunda
gestação foi uma gravidez planejada, estava com 31 anos de idade. Quando descobriu que
realmente estava grávida já estava com 4 semanas de gestação e no período perdeu uma irmã
em um acidente ficando assim com seu emocional abalado devido a perda de um ente
familiar. Durante a gestação a mãe usou remédio para tireóide (puran t4 l50mg), não
apresentou depressão e infecções, realizou pré-natal normal com uma consulta mensal, teve
ameaça de aborto perdeu sangue com mais ou menos 25 semanas, o neném mexeu
aproximadamente com 4 meses e tinha uma boa movimentação intra útero. Durante o pré
natal realizou vários exames, e em um dos exames de eco grafia o Medico a informou que o
perímetro cefálico estava maior que o normal mas não era pra ela se preocupar. O parto foi
cesaria com 39 semanas de gestação o neném não chorou logo que nasceu e apresentou
icterícia. Deficiências associadas, visão com estrabismo, pés torto congênito, paciente já
realizou a cirurgia ortopédica, hidrocefalia sendo que também fez cirurgia para colocar
válvula periventricular para drenagem e paralisia facial. Na analise da postura da criança na
posição supino ele mantem a cabeça na linha media apresenta movimento
antigravitacionarios, acompanha objetos com a mão, leva objetos a boca, tem uma boa
apreensão palmar e rola. Em prono aceita a posição, endireita a cabeça, faz apoio dos
cotovelos, extensão dos cotovelos, libera um braço, transferência lateral, elevação da cabeça e
tronco, pegas objetos e engatinha. Lateral se mantem na postura, pega objetos, tem pouco
equilíbrio muscular abdominal e dorsal e faz retificação lateral da cabeça. Sentado e a posição
que mais gosta de ficar, alcança a posição sozinho, cabeça na linha media, senta sem apoio e
com equilíbrio, projeta o corpo para frente, não tem uma boa extensão da coluna, pega
objetos. Em Pé, alcança a posição segurando em alguma coisa, mas não consegue permanecer
por muito tempo, não tem equilíbrio, não alinhamento e apoio de todo o pé devido o seu
problema de pés tortos congênitos, a cabeça se mantem na linha media, consegue pegar
objetos, e seu quadril e joelhos ficam semi-flexionado. Marcha no dia avaliação não consegui
visualizar e fazer com que o paciente ficasse em pé chorou muito e não saiu do colo da mãe,
mas durante os atendimentos estou sempre observando e reavaliando. No dia 08 de marco
coloquei o Vitor nas barras paralelas ele estava usando a sua ortese nos pés e conseguiu
realizar sozinho pela primeira vez a marcha com apoio das mãos nas barras.
Os objetivos e condutas de tratamento fisioterapêutico direcionado para este paciente são:
1. EVITAR DEFORMIDADES: Colocando a criança na posição de pé e manter a postura,
favorecendo a postura bípede com extensão dos joelhos, quadril e a posição plantígrada
dos pés, e a sensibilidade proprioceptiva.
2. GANHAR ADM: Com alongamentos passivos e ativos.
3. FACILITAR AS REACOES DE EQUILIBRIO: Utilizando prancha e balancin dando
apoio para o paciente e aos poucos tirando conforme evolução do atendimento.
4. DISENSIBILIZACAO MUSCULAR: Usando escovas de dente, pinceis esponjas e ate
5. FORATLECIMENTO DE MM II: Tomada de peso em MMII, brincando com o cavalinho
pedindo para ele se levantar sozinho, colocando objetos no espaldar e pedir para que
pegue sozinho, fazer a marcha nas barras paralelas.
6. ESTIMULACAO FACIAL – Com técnicas de taaping em todos os mm facial. Abrir e
RESULTADOS
Com relação aos resultados é importante ressaltar que apenas três atendimentos, com
duração de 50 min o paciente estudo conseguiu através as barras paralelas sozinho; não
possibilitando maiores informações sobre outras evoluções do quadro clínico. Porém, a busca
por resultados positivos poderá ser obtida através do cumprimento de todos os objetivos
propostos para tal paciente, onde através das técnicas e exercícios específicos realizados
pretende-se restaurar o máximo da funcionalidade, autonomia e independência para a
realização de suas atividades de vida diária, como também contribuir para uma infância mais
DISCUSSÃO
A Síndrome de Moebius caracteriza-se pela paralesia congênita e não progressiva dos
nervos cranianos VI (responsável pelo movimento ocular) e o VII (responsável pela parte
sensitiva, gustação e mímica facial). Frequentemente outros nervos cranianos apresentam - se
comprometidos uni ou bilateralmente como IX Glossofaríngeo sensação da língua e
deglutição e XII hipoglosso movimentação da língua, quase sempre bilateral o que produz a
aparência facial pouco expressiva e estrabismo convergente. A maioria dos casos pode
acompanhar deficiência mental podendo ser assim um envolvimento do sistema nervoso mais
difuso do que o apontado pela presença maciça das paralisias de nervos cranianos. No caso do
paciente em estudo, por apresentar seqüela de leucamalacia periventricular que hoje e
considerada a principal forma de lesão cerebral nos recém-nascidos prematuros faz com que
isso aumente o risco de seqüela neurológica devido a necrose cerebral extensa por anóxia do
parto, resultando em paralesia cerebral, especialmente a diplegia. O grau de deficiência
motora varia de acordo com o comprometimento. Em conseqüência da degeneração cística os
ventrículos laterais dilatam – se para ocupar o espaço deixado causando a hidrocefalia.
Algumas crianças apresentam comprometimentos mínimos, dando a impressão de serem
normais, enquanto não se descobre que a sua incapacidade de se igualar física e mentalmente
às crianças da mesma idade é devida à disfunção cerebral. O principal objetivo da fisioterapia
em pacientes com Síndrome de Moebius e Seqüela de Leucomalácia Periventricular, consiste
em treinar as crianças com disfunção motora na realização de atividades essenciais para sua
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nesse estudo de caso, podem-se destacar as contribuições do profissional
fisioterapeuta para os indivíduos que apresentam Síndrome de Moebius, apontando os
benefícios proporcionados pelas técnicas, métodos e exercícios específicos aplicados pelo
terapeuta na busca pela funcionalidade mais próxima do normal, adequada a classificação,
atingindo e mantendo uma reintegração bem-sucedida em casa e na sociedade.
REFERÊNCIAS
FONSECA, L. F.; LIMA, C. L. Paralisia Cerebral. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.
KUMAR D.: Moebius Syndrome. J Med Genet 27: 122-126, 1990.
PUPO FILHO R.A., Cardoso T.A.L., Martins J.R.O., et al: Síndrome de Moe- bius, uma patologia emergente no Brasil. Rev Paul Pediatria 17: 91-94, 1999.
www.rbo.org.br www.unicamp.br www.virtual.unifesp.br
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